Quando a vida nos dá lições...

Estou passando pela experiência de realizar o censo.
Vou de casa em casa com aquele computador de mão fazendo perguntas... "quantos banheiros, quantas pessoas, quanto ganham"...
Não estou lá porque quis. Na verdade, tentei o cargo mais alto deste concurso, mas sabe como é, a gente depois de alguns anos esquece da matéria, não havia estudado nada... mesmo sendo segundo grau, não consegui a colocação ideal, eram poucas vagas, 18 se não me engano, fiquei entre os 30.
Aí tentei pra recenseador e cá estou.

Uma experiência única e riquíssima.
Faço o trabalho com boa vontade, explico com paciência a importância do censo e torço para que os malditos governantes melhorem a vida da população.
Não tenho pressa e com isso, vou colecionando história de vida de pessoas simples.

Primeiro fui pra uma periferia, bairro conhecido como lixão. Quando entrei com o Hélio a primeira vez pra reconhecer o setor, confesso que senti uma ponta de arrependimento.
Veio aquele pensamento: "aonde fui amarrar meu bode"...
É um lugar horrível, cheio de gente, cachorro, lixo... miséria... valetas a céu aberto.

A cultura do lixo é uma coisa muito louca. Mesmo assim, a maioria das pessoas é feliz com o pouco que tem. Conheci mães da minha idade com mais de 5 filhos, cabelos brancos... fiz algumas pessoas chorarem por causa da pergunta da mortalidade, com isso fui conhecendo mães inconformadas com a partida precoce de um filho... viúvas saudosas...
Lá é outro mundo.
Há muitos analfabetos, gente que vive com menos de 5 reais por dia... a polícia nunca aparece... só há uma creche...
Bolsa-família é ilusão. Poucos os que conseguem...

Fui bem tratada por todos. Explicava que minha função era fazer as perguntas conforme aparecia no PDA e não tinha problema.

Depois fui pra um setor rico. Posso dizer que em uma quadra o que as pessoas ganhavam era superior a soma de rendimentos de todos os moradores do lixão.
Fui tratada com desconfiança pelos ricos. Com um pouco de mal-humor também.
Deu pra sentir no olhar de algumas toda a tristeza.
Sei de algumas histórias ali, sei que muitos tem uma vida bela e bonita da porta da rua pra fora, mas são incapazes de se sentirem felizes com tudo o que tem.

O dinheiro não traz felicidade, só camufla.

Posso dizer também que quanto mais conhecimento alguns tem, mais ignorantes se tornam.

Agora estou terminando um setor que se Deus quiser em breve será meu local de moradia.
Fica há 15 minutos do centro da cidade, é uma área quase rural, aonde passarinhos amarelos e beija-flores azuis cruzam nosso caminho a todo instante.
As pessoas são simpáticas, gentis, vivem num local aonde as janelas não precisam ser fechadas pra evitar ladrões.

Cansei deste agito da cidade, olha que aqui não é uma cidade grande.

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