Um grande homem... Ludovico Mikosz

Aprendi o verdadeiro amor e o sentimento de gratidão com você. Talvez o fato de ter convivido com pessoas que tinham um relacionamento tão perfeito me fizeram assim, meio sonhadora. Quando nasci, apesar de que a dor da separação do meu irmão gêmeo ter sido decisiva para formar a minha pessoa nos primeiros anos, fui abençoada por ter sido colocada ao lado de pessoas extramente boas e maravilhosas.

Quem era meu pai?
Ora, era aquele homem dedicado à família que valorizava cada instante junto da esposa e dos filhos. Dividia sua vida entre nós e a rádio, foi ele quem transformou a Rádio Difusora e descobriu tantos talentos, por isso tantos são gratos... foi ele quem fundou a Rádio Litoral Sul Fm, se eu ficar falando aqui do seu lado profissional esta postagem não acaba, pois o pai foi um dos grandes homens do cenário parnanguara, um formador de opiniões, só não foi prefeito porque achava que a política exigia que alguns valores ficassem pra trás.
Isso nunca, nunca Ludovico deixaria de fazer ou falar o que achava o correto. Puxei muito este seu lado.
Nós dois tínhamos uma relação muito forte e muito cúmplice. Quantas vezes eu chegava na rádio e ficávamos conversando sobre os acontecimentos públicos e pitorescos da nossa cidade. O pai se indignava de verdade com a forma como os políticos tratavam o povo deixando-os pra trás em benefício próprio.
Quando inventaram uma maluquice de cobrar a água conforme a quantidade de quartos que cada casa possuía, ele começou com uma campanha no Jornal da Manhã insuflando a população a não aceitar isso. Dava nome aos bois e mais ainda, ia de gabinete em gabinete cobrá-los.
Era assim que ele entendia que a Rádio Difusora deveria ser, um instrumento do povo e para o povo.
Quando ele achava certo e botava fé era o maior aliado do cara, mas se percebesse que o fulano não era honesto não havia nada que o fizesse mudar.
Tinha uma primeira-dama que o procurava frequentemente para pedir conselhos e quando ela decidiu se candidatar ouviu dele que não deveria se queimar, era muito boa para se sujar naquele meio. Ela não pensou duas vezes e desistiu.
Um dos seus grandes desafetos foi nosso ex-governador Roberto Requião, meu pai não o suportava, pelos motivos óbvios, era recíproco aliás, tanto que o nobre político através de uma ação na Justiça conseguiu deixá-lo longe dos microfones por algum tempo. Falar a verdade machuca e o "Lude" não tinha papas na língua.
Nem medo... isso também puxei dele.

O pai Ludovico era fenomenal.
Antes de eu engravidar, minha mãe diria que ele morreria se isso acontecesse.
Quando aconteceu, ele realmente morreu... de alegria.
Lembro como se fosse ontem, minha mãe descobriu, eu tinha 17 anos, contou pra ele que nem saiu do quarto, era noite, eu estava na sala vendo TV Pirata e no fundo não via a hora que descobrissem, mas menina ainda, tinha medo.
Todos os dias nós dois saíamos cedo, tomávamos café juntos, naquele silêncio, assistindo ao jornal na tv, morávamos em Curitiba.
Na primeira manhã já sabendo que sua menininha estava grávida, ao invés de vir com aquele discurso moralista, simplesmente ele puxou assunto comigo sobre vários temas banais.
Foi a forma que encontrou de dizer, sem dizer, que me apoiava.
Sinceramente, foi um dos momentos mais lindos que vivemos juntos, nós três: eu, ele e minha mãe.
Porque Deus não quis que nesta encarnação eles pudessem gerar filhos, mas os fez melhores do que muitos pais genitores. Porém, Deus me deu a benção de ser mãe cedo para que ambos pudessem viver o momento mágico que é a gravidez.
Eu tinha tanto amor, não me faltava nada, foi uma fase da qual sinto saudades.
Lembro que a gente sempre fazia grandes compras do mês no supermercado e meu pai nunca foi de esbanjar, logo, não podia pegar nada sem perguntar se podia e dizer quanto era.
Quando estava grávida ele esqueceu totalmente disso, até me perguntava se queria algo antes de encerrarmos.
Sorte dele que aprendi a ser contida.

Eu fui uma criança privilegiada, não era mimada, era amada. Muito amada.
Só estudei em escolas particulares e mesmo andando com o pessoal da elite nunca esqueci que embora não me faltasse nada não havia necessidade de querer coisas caras.
Isso tudo porque meus pais sempre foram humildes.
Esta humildade é uma das tantas heranças.

Lembro que quando eu era criança, num dos dia dos pais, eu fiz vários cartazes com pistas para que ele encontrasse seu presente. Cada cartaz tinha uma frase de amor.
Nunca deixei de lhe dar algo, nem que fosse o almoço do dia.
Foram tantos momentos, tantos...
Todos merecidos.
Por isso que hoje, apesar da ausência, estas lembranças enchem meu coração de alegria.
Quem tem a satisfação de ter um super pai assim?
Pai presente, pai amoroso, pai de verdade, pai que a gente confia e sabe que pode contar.

Minha filha nunca sentiu falta do pai por causa dele.
Graças a ele também pude realizar uma das minhas metas com a Jéssica que foi lhe dar uma educação completa em ensino particular.
A maior herança que podemos dar aos nossos filhos é a educação, eu quis pra ela o que eles me deram e graças aos dois que vejo minha filha muito bem empregada dentro da área que escolheu pra cursar na Faculdade.

A Jéssica foi o presente que eu dei pro meu pai, aliás, pros dois.

Meu pai, nossa, dia 7/09 fará 4 anos que se foi.
Não gosto de reviver aquele dia... uma das maiores dores que senti.
Desde pequena eu sofria por antecipação quando pensava que um dia eles me deixariam, segundo meu ex-psicoterapeuta isso também foi uma das marcas que a separação do meu irmão gêmeo me deixou.
Medo de perder.

Fico feliz porque sei que após a partida da minha mãe, consegui ser mais do que uma filha presente, fui uma amiga.
Sinto saudades de pegarmos a estrada e irmos até à praia almoçar, depois caminhar pela areia... relembrando momentos com a mãe... ou da minha infância.
Sinto saudades de preparar sua comidinha totalmente sem sal mas transbordando de amor e carinho.
Sempre ele achava que me dava trabalho e eu deixava claro que era um prazer cuidar de quem sempre me cuidou tão bem.

Eu estava me preparando para cuidá-lo até que ficasse bem, bem velhinho, mas a vida o levou e ele ainda era independente, totalmente.

Que bom que Deus me deu a oportunidade de reencarnar nesta família, de ser uma Mikosz, aprendi muito com este homem.
A retidão, o caráter, a dignidade e a verdade foram os pilares que ele me deixou e que me sustentam.

Posso errar, mas até a forma como encaro o fato e dou um rumo diferente à vida vem com reflexos da minha criação.
O que peço pra Deus é que se eu for metade do que este homem foi tá ótimo.
Grande exemplo, grande orgulho.

Se posso encerrar dizendo mais alguma coisa é que você me ensinou a viver sem hipocrisia mesmo...
Te amo para sempre... até um dia pai!
a


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A morte...

Quem tem boca fala o que quer pra ter nome...

Marcelo Dourado, o vencedor do Big Brother Brasil 10?