Dia das Mães sem mãe - parte 6.





Quem disse que seria a vida toda ao seu lado, mãe?
Quem disse que a senhora seria eterna?
Quem disse que com o passar do tempo a dor se transformaria em saudades e ponto final?
Quem disse que seria fácil lidar com esta saudades?
Quem disse que estamos preparados para perdermos quem amamos, mesmo sabendo que ninguém fica para a semente (como a senhora dizia)?
Quem disse mãe que esta ausência não iria tomar uma proporção maior a cada data comemorativa?
Quem disse que um dia irei me acostumar a viver sem sua voz, sem seus elogios, sem seu carinho, sua amizade, sua compreensão?
Quem disse que apesar de me conformar com o fato de saber que provavelmente está ao lado do seu grande amor, não sentiria uma pontada de ciúmes?
Quem disse que só porque eu acredito que a morte seja um começo fica mais fácil aceitar?
Quem disse que que não posso chamá-la nas horas em que me sinto desesperada no silêncio e na solidão do meu quarto, quando a vida dói?
Quem disse que não tenho remorso pelos dias em que não estive ao seu lado, pelas preocupações que lhe dei?
Quem disse que existe um botão dentro da gente que basta apertar para que ele simplesmente acione o comando "aceite" e nos faça seguir o rumo da vida, sem olhar pra trás?
Quem disse que não posso sentir saudades infinitas?

***

Mãe é tudo, mãe é aquele porto seguro que temos, mãe é aquele aconchego, mãe fica do nosso lado mesmo quando estamos errados - mesmo que seja para depois nos chamar num canto e dar bronca - mãe sempre nos diz a verdade, mãe tem sensor para saber quem presta e quem não presta quando os apresentamos à elas, mãe sabe sempre o que é melhor para nós.
Quem dera, na estupidez da nossa adolescência, nossa alma rebelde, nossa timidez e o mundo que estigmatiza as pessoas fazendo com que queiramos sempre sermos mais aceitos pelos outros, quem dera pudéssemos ouvir nossas mães e valorizá-las como diamantes preciosos... quem dera se ao invés de ouvirmos os conselhos dos "amigos" apenas fossemos o que nossas mães enxergavam quem éramos.
Se dependesse da dona Rose, juro que a doença não teria se manifestado com tanta força... talvez eu esteja divagando, filosofando, "viajando"... mas minha mãe sabia de tudo.
Fui uma adolescente adicta, lutando contra a falta de auto-aceitação, mas com o passar dos anos, mesmo antes de entrar em recuperação, fui conseguindo ser uma filha um pouco melhor.
Não a filha que a melhor mãe do mundo merecia, mas melhor do que havia sido.
Minha mãe, era um pedaço de mim.
Ainda me sinto estranha de pensar que amanhã, pela sexta vez, será mais um domingo que não estarei me preparando para recebê-la aqui., que não fiquei matutando qual a lembrança que lhe daria, minha mãe não ligava, mas eu sempre fiz questão...
Peço que Deus não a deixe sofrer no plano em que vive, especialmente por causa de mim e do meu irmão.
Um dia eu tive uma experiência sobrenatural com ela, pouco antes da cirurgia, bateu-me um desespero, aquele sofrimento que tanto amo, estava agoniada, tensa, chorando sem parar... deitada na cama pude sentir suas mãos na minha cabeça, senti sua presença... e dormi.
Aonde quer que esteja mãe, só peço uma coisa: proteja-me, pois ainda preciso muito de você.
Que eu nunca perca minha fé, às vezes oscila, tenho medo do que a mente pode fazer, penso em desistir, mas minha crença me lembra que não sou dona da minha vida, não sou meu Deus, não posso tomar conta, preciso entregar, preciso aceitar... preciso acreditar que a vida vai tomar um rumo diferente, que todas as provações que passo são para meu crescimento... fazendo o certo pelo motivo certo minha vida uma hora engrena.

***

Minha filha.
Quero apenas agradecer à Deus porque ela é uma guerreira, pode ter defeitos - que todo mundo tem - mas, as qualidades me fascinam.
Como sinto orgulho da Jéssica, como gostaria de ter sido como ela, que sabe aproveitar as oportunidades, que é realista, prática, que sabe que pode alcançar seus objetivos.
Eu era tão diferente, ainda sou... acho que só nos defeitos somos iguais.
Quando digo que estou viva por causa dela é verdade, pois pensava muito em morte e para uma adolescente perturbada e complexada se matar não precisa muito.
Eu era tão menosprezada, tão humilhada, tão recalcada... não havia carinho de mãe que fizesse eu me sentir mais forte. A força vinha em forma de atitudes, as pessoas me atiravam pedras eu devolvia em forma de rochas... mas antes eu as arrastava.
Foi o tempo.
São estas coisas que não quero ressentir.
Não consigo ser a mãe que a minha foi para mim.
Porque eu ainda tenho aquele sentimento de não querer atrapalhar, de ser um peso, um fardo, mas tenho certeza de uma coisa: minha filha sabe que pode contar comigo no que precisar, que estarei ao seu lado sempre.
Não sei se ela lembra do quanto sua infância foi maravilhosa, graças a nós 3: vó, vô e eu.
A gente sempre fez o que pode pra ela, sim, tiveram os momentos ruins, eu era uma jovem começando a ativar minha doença... mas antes disso, lembro que fazíamos coisas boas, éramos unidas, felizes, nada lhe faltou...
Ser mãe foi a melhor coisa que fiz na vida.
Obrigada minha filha, sem você, nem me importaria comigo.

Te amo.

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