Somos um grão...







Sexta-feira, 11 de março, acordei cedo e assim que liguei a televisão, como de costume, fiquei chocada ao ver as imagens do terremoto e do tsunami que assolaram algumas cidades do Japão. Mesmo estando longe, a gente se penaliza com tamanha destruição.
Depois veio a notícia de que a cidade de Morretes estava embaixo d'água... uma surpresa, pois não ouvi chuva alguma durante a madrugada.
Fui trabalhar e choveu muito, muito mesmo, algo que só tinha visto uma vez, há alguns anos. Fiquei preocupada por ter deixado meu carro na cabeceira da ponte e as informações eram de que havia carros boiando.
Confesso que não me desesperei, devo estar acostumando-me a ser resignada.
Como sou uma pessoa de sorte, meu carro ficou num local seco enquanto em torno dele tudo era água, parecia um rio imenso. Entrei, agradeci muito Deus por ter me poupado e encarei a rua inundada. Fui devagar e logo estava a salvo em casa. Na cama quentinha, com meu marido ao lado. Ufa...
No transcorrer da tarde descobrimos que não tínhamos água. Entre as notícias da tragédia no Japão acompanhávamos as informações dos desmoronamentos em Morretes e Antonina, até que fomos informados de que estávamos isolados. Sim, não dava para passar pela rodovia que liga Paranaguá a Praia de Leste por causa da água na pista e nem pela BR-277, aonde pontes foram levadas com a enxurrada.
Só então começamos a ter uma noção da dimensão do problema.
Paranaguá era uma cidade isolada. Se alguém precisasse ser levado às pressas para Curitiba não tinha como sair, só se tivesse dinheiro pra um táxi-aéreo.
O desespero da população nos dias seguintes foi encontrar água mineral. Descobrimos que nosso galão tinha pouco mais de 3 litros. Por sorte, achei por um preço bem acessível garrafinhas de 500 ml. Porque sempre tem aqueles que não se importam em lucrar com a desgraça alheia.
Também vimos que não podíamos reclamar mesmo, pois a caixa d'água debaixo estava cheia. Só precisávamos nos acostumar com os baldes. Balde pra tudo.
Menos mal, pois alguns estavam sem telefone, outros sem internet. Outros sem casa...
Na segunda-feira tivemos que correr ao posto, pois soubemos que os combustíveis também acabariam. Nos supermercados as gôndolas de verduras e frutas estavam vazias, alguns alimentos como pão fatiado já não eram encontrados.
Sem contar a onda de boatos. Uns diziam que havia mais de 100 corpos em um conteiner ao lado do IML, outros falaram que a luz acabaria e a população em pânico correu pra comprar velas. Aos poucos a imprensa conseguiu reestabelecer a verdade.
Apesar de tudo, ainda acredito que não podemos reclamar, pois não perdemos nada, pior seria se estivéssemos em Morretes, Antonina... Ou no Japão.
A situação dos caminhoneiros que ficaram quatro dias sem poder sair do lugar e descarregar no porto também foi lamentável. Em nenhum momento lembraram que aqueles trabalhadores estavam sem banheiro, sem alimentação e sem água. Os pobres tiveram que se virar do jeito que deu.
Hoje, dez dias após, ainda enfrentamos problema com água, mas em alguns domicílios está chegando, fraca porque não tem pressão. O risco agora é de contaminação, campanhas alertam sobre o risco de contrairmos Hepatite A e Leptospirose.
Não estamos mais isolados, a BR-277 está com o tráfego liberado nos dois sentidos, mas em alguns trechos ainda o tráfego flui lentamente porque passa em meia pista.
Ainda encontramos pessoas preocupadas em conseguir água potável, também é comum encontrarmos pessoas com garrafas pelas ruas.
Estamos vivendo tempos que muitos chamam de apocalípticos?
Poderíamos evitar?
Não acredito que seja o fim do mundo, como muitos, aquela frase chata das pessoas que dizem "é 2012 chegando", isto é besteira.
Prefiro acreditar nos cientistas, segundo os quais estes fenômenos sempre ocorreram, a diferença é que hoje nós, humanos, tomamos conta do planeta.
Poluímos, destruímos, ocupamos morros, desmatamos, criamos bombas nucleares...
Por não terem condições financeiras de morarem em locais seguros, a população mais desfavorecida acaba arriscando-se e habitando morros, encostas, consequentemente são os primeiros a serem atingidos quando estes fenômenos ocorrem.
O Japão desgraçadamente está em cima de placas tectônicas, hoje compreendemos exatamente o que isso significa, mas quando as primeiras civilizações começaram a habitar a face da Terra não imaginavam tais fatos.
Quando nos deparamos com tais fatos, percebemos o quão pequenos somos.
Notamos que não temos nada, que tudo pode ser levado em questão de segundos. Pobre daqueles que se acreditam onipotentes porque moram em casas boas, tem carros possantes e muito dinheiro na conta bancária. Nada disso tem valor quando não temos um coração puro e solidário. O que importa nesta vida é a vida que se leva, não o que podemos levar da vida. Porque nada nos iguala mais do que a morte. Para todos chegará o dia de partir, pobres, ricos, feios, bonitos, magros, gordos, bons ou maus, todos estão no mesmo barco.
Agora é o momento de repartimos o que temos com aqueles que perderam tudo. Porque acumular dinheiro deve servir para isto, parar praticarmos a solidariedade, não apenas para vivermos confortavelmente num país de miseráveis.
Mesmo quem não tem muito, com boa vontade consegue doar algo que ajudará o próximo.
A água também é nosso maior bem, fonte da nossa vida, precisamos usar de forma mais racional porque um dia irá acabar e não teremos mananciais que nos sirvam.

A mãe Natureza está dando vários alertas.
Ou cuidamos do nosso planeta ou teremos que aprender a viver com estas catástrofes.

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