5 anos sem Ludovico Mikosz, mas o amor ainda está muito vivo dentro de mim!







"O amor como palavra é muito lindo, como vivência também, mas a vivência só será completada quando o amor for verdadeiro, quando o amor significar caridade e tudo for feito no mundo por caridade".
É pai, apenas 5 anos se passaram. Tanta coisa mudou na minha vida, tanta coisa mudou dentro de mim.
Queria abraçá-lo e dizer mais uma vez muito obrigada.
Queria pedir perdão, mas hoje não carrego culpa por ter sido aquela adolescente tão difícil, tão rebelde, tão desajustada e complicada.
Agora sei qual é o foco dos problemas, entendo-me e assim, um pouco a cada dia, perdoo-me.
As vitórias que conquisto, por mais um dia, gostaria de compartilhar com você (s).
Quem sabe ainda sou uma garotinha, esperando o ônibus, não para escola, mas sozinha.
Vi um idoso caminhando tranquilamente na Praça Dois Leões ou dos Leões - tenho dúvidas até hoje - mas enfim, meu coração quase parou, quem dera fosse o senhor pai, que Deus, por descuido, deixou que saísse para dar uma voltinha e me permitiu vê-lo.
Claro que não, mas aquela visão fez com que me visse ali, brincando na praça com meu irmão sob a vigilância da cuidadosa dona Rose, a quem tive o privilégio de ter como mãe.
Que doce infância eu tive, posso dizer que com tudo o que uma criança merece ter.
Lembrei de comprarmos o material escolar na Rosibrás, mas nada de escolher o que fosse mais caro, o senhor deixava eu escolher sim, se não fosse luxo. Lembro de ambos encapando os cadernos, da ajuda que me davam nas lições, com paciência., do cheiro das tintas, do lápis de cor, do uniforme novo, do tênis...
Quando o senhor brigava comigo só sua voz já me fazia tremer... e a cara de brabo então?
Olha que mereci muitas cintadas, mas não, vocês não eram disso. Só uma vez tomei uma, fiquei muda de raiva, passei o dia todo fingindo que tinha perdido a voz... para se sentirem culpados, no fim das contas ninguém notou... ou notaram e deixaram, porque sabiam como eu era bicuda.
O senhor era tão justo pai, justo com funcionários, justo com pessoas desconhecidas, justo como homem público, queria tanto uma cidade melhor, que pensasse no povo, no mais pobre, no mais desfavorecido. 
Meus primos sentem sua falta porque dizem que o "tio Lude" era como pai.
Tão simples, mas poucos percebem o estrago emocional que faz numa criança que chega no Natal e vê seu primo ganhar 2, 3, 4, 5... presentes e ele apenas um, de plástico, que ao abrir o pacote já cai a rodinha, a perninha da boneca. Nunca meus primos, na época mais pobres, passaram por isso, o presente que nós ganhávamos era igual pra eles. 
Quem pensa assim neste mundo de consumo exagerado, aonde crianças de 4 anos já ganham TABLETs?
Tenho orgulho de ser Mikosz, porque o senhor foi um grande homem, de caráter, índole, que ajudou muita gente apenas porque seu coração mandava, nem eu sabia de algumas histórias, soube no seu enterro.
Não tinha vaidade, não que fosse perfeito, ninguém é... mas suas qualidades abafavam defeitos e se sobressaiam.
Agradeço a Deus por ter dado a você uma neta, tão amada e tão querida que trouxe aquela velha alegria já perdida nas desilusões e das decepções que a vida trouxe a ambos.
Tiveram perdas cruéis.
Tenho a lembrança de vê-lo sentado na beira da cama, um dia após o enterro da minha mãe, chorando. Acho que só o vi chorando duas vezes, quando roubaram-lhe um carro em Curitiba e ainda haviam tantas parcelas do consórcio a serem pagas... e quando perdeu sua cara-metade.
Ela queria você perto, você queria ir.
Sei que fiz minha parte como filha naqueles 15 meses que separam a morte de ambos, vivi para o senhor, adotei-o como meu filho, lembro do senhor sempre dizendo "não precisa, vai se incomodar comigo, você tem tanta coisa pra fazer", mal sabia o quanto eu me sentia honrada de cuidá-lo.
Na minha cabeça, vocês ficariam bem idosos, talvez até numa cama precisando de cuidados, sabia que seria minha missão, que sozinhos não ficariam.
Só que Deus, com toda sua misericórdia, mandou enfartes fulminantes, nenhum dos dois ficou inválido, foram ainda ativos.
Sabe que tenho certeza que ela estava junto do senhor o tempo todo, sofrendo porque o via sofrer?
Porque eu sei que sozinho no seu quarto chorava de saudades.
Foram 52 anos de casamento, de cumplicidade, de amor, respeito, carinho...
Digo que não fazem mais homens como o senhor pai, por isso estou sozinha. 
Este ano minha filha, melhor, a filha que eu pari e você e minha mãe educaram como se fosse de ambos, irá se formar.
Não vou dizer que criaram, porque nunca abandonei a Jéssica, ela sempre me chamou de mãe, sempre morou comigo porque filho é pra ficar com a gente. Só que dividimos as responsabilidades, pois eu era uma menina, novinha e o seu coração era acolhedor.
Queria-o (s) junto comigo vendo-a, tão jovem, formando-se, já com um bom emprego, bem casada, responsável... ela sim, é a Roseane que não deu certo, mas sei, vocês vão sempre arrumar uma desculpa para dizerem que tem orgulho de mim.
Modéstia a parte, passo tantos percalços que sempre alguém me diz "guerreira, admiro você", tem sempre alguém me ajudando, nunca estou sozinha... talvez seja Deus, talvez sejam meus anjos da guarda, Ludovico e Rose, nunca saberei, o que sei é que sinto saudades, mas toco minha vida, tirando as pedras do caminho, enfrentando meus medos, escalando degraus, conformando-me com os fatos, tendo fé e esperança no futuro.
A caridade meu pai? Pratico-a, todos os dias, com estranhos, com conhecidos, com animais e comigo mesma, a final, foram anos e anos repetindo os mesmos erros esperando resultados diferentes.
Agora é um dia de cada vez e quando chegar minha hora, torcer para ser recebida por vocês dois.

Obrigada Pai... obrigada Deus, por ter me colocado no seio desta família.


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