Um ano...

Pois é, o tempo passa e de repente você não faz parte da grande maioria que se preocupa aonde irá passar seu feriado de 7 de setembro. Agora você pensa como irá passá-lo.
Datas, números, servem apenas pra marcarmos um tempo.
Lidar com perdas nunca é simples.
Agora o dia 7 de setembro o dia de aniversário de morte do meu pai, o da mãe é no dia 12 de junho, justamente dia dos namorados. Seria a data que escolhi pra contar os anos de relação com o Hélio, já que a gente não sabe bem quando começamos. Agora quando chega em junho apenas adiciono mais um ano, desisti do dia 12.

Não consegui ir ao cemitério no dia dos pais, foi um dia esquisito, passei o dia de pijama, não quis sair.
Sempre curti estas datas, podia recebê-los em casa com um delicioso almoço. Muitas vezes tinha que insistir, pois devido a saúde debilitada de ambos preferiam sempre ficar em casa.
Faziam um esforço, vinham, eram sempre presenteados, amados, beijados e passávamos uma tarde muito boa. Sei que adoravam isto. Daí no meio da tarde o pai olhava pra mãe e dizia "vamos meu bem?", às vezes ela ganhava mais alguns minutos, às vezes ia rapidinho... sem nunca deixar de levar os potinhos pra comerem mais tarde... e também pro Eduardo de quem minha mãe nunca esquecia.
Infelizmente, das poucas vezes que me lembro dele participando sempre me vem a imagem dele provocando a Jéssica, ridicularizando minha mãe, reclamando... nunca soube viver conosco. Agora deve estar bom sozinho.

Agora são 13:02, há um ano o pai estava vivo ainda.
Sua última refeição foi uma carne móída misturadinha com arroz e uma saladinha, totalmente sem sal por causa da pressão. E ele sempre dizia que estava ótimo, achava que atrapalhava-me porque eu fazia tudo separadinho. Tadinho do meu pai, sempre foi tão bonzinho.
Lembro que servi seu prato em cima da penteadeira no quarto deles. Então fomos almoçar na minha sogra.
Senti aquele dia estranho, sentia-me inquieta, mas como sempre tive estas coisas não soube entender.
O pai foi lá na Difusora, participou ironicamente de seu último programa de rádio ao vivo, graças ao Mozar, pessoa que ele iniciou e de quem sentia orgulho e recebia gratidão.
Agora à pouco ouvi novamente. Ter pai radialista faz com quem a gente fique com um acervo enorme de voz.
Fico pensando, meus pais morreram de enfarte com o mesmo médico.
Não, não e não. Não gosto de pensar nisso.
Uma das maneiras de não sofrer é evitar pensar demais naqueles que se foram.
Passado um ano da partida dele, ainda dói demais determinadas lembranças. Principalmente aquelas que se relacionam com os fatos da morte.
O momento em que ele chegou passando mal, as últimas palavras dele de dor. Se engana quem diga que quer morrer de enfarte pra não sofrer. O pai gritava de dor, meu Deus, horrível ter esta lembrança.
Por isso que evito ficar lembrando muito. Porque fatalmente ainda caio neste buraco negro.
Só que hoje é um dia de relembrar.
Sábado já tinha ido lá no cemitério pra limpar o túmulo.
Hoje levei um vaso.
Um ano...sei que muitos já o esqueceram.
Eu e muitos, nunca iremos.
Acredito que algum dia alguém vai lembrar e imortalizá-lo dando nome a algum prédio público.
Ou será que nossa cidade é tão ingrata?
Não importa. Como eu disse pra eles hoje, azar desta cidade que os perdeu.

Eu tive sorte demais. Com tanta desunião, interesse, discórdia e falsidade, cresci cercada de amor de pessoas totalmente desprendidas.
Eu errei muito quando perdi este tempo precioso brigando, sendo egoísta, sendo revoltada, mas isso compreendo agora que sou adulta.
Tinham muitos fantasmas que me atormentavam, ainda bem que meus pais sempre entenderam isso.

Um ano...

É só uma marcação mesmo, mas hoje é o dia em que preciso enfrentar as lembranças, dar vazão à saudade... não tem jeito.

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