Jogo do Contente







Hoje completei 14 dias após a cirurgia.
Sinceramente, pensei que fosse sofrer horrores, que fosse chorar muito, que a depressão seria uma constante e que a Lisle estaria ferrada pra me aturar.
No fim, foram 2 dias realmente ruins, nem foram longos, resumiram-se apenas a algumas horas, como sempre influenciados pelo clima, pelo tempo nublado.
Pura depressão climática.
Não vou negar, ainda me dá aflição fazer os curativos, ai... mexer com pontos e ferimentos inflamados me dá agonia, meu umbigo tá machucado assim como alguns pontos que se abriram, mas, nada sobrenatural.
Nada que prejudique a satisfação de me olhar de lado no espelho se sentir-me magra, sem aquela barriga que todos perguntavam "tá grávida"?
Nunca liguei, sempre fui mais meu interior mesmo, aprendi a ver a vida assim porque sofri muito bullyng na adolescência e depois me deprimi muito quando engravidei e cultivei um mar de estrias no abdómen.
Mesmo assim, ia pra piscina do Clube Olímpico de biquini porque se não tinha uma barriga perfeita, meu bronzeado sempre compensou.

Lógico, depois do meu pai gastar com terapias e alguns homens apaixonados por mim - independente disso - passei a perceber que se preocupar com aspectos tão pequenos era algo realmente estúpido.
Fora o motivo principal das estrias estarem ali: minha filha linda, inteligente (acima da média) e perfeita, que sempre foi a motivação da minha vida.
Foi e é.
Eu seria muito vazia se me preocupasse apenas com isso.
Isso não é ser convencida, mas amadurecer.

Fiz a cirurgia agora porque fui incentivada pela minha filha e mais que isso, senti aquela necessidade de coroar este momento mágico de renascimento com mais uma superação.
É tão gratificante derrotarmos o medo e fazermos aquilo que não sabemos que somos capazes.
Barriga nova, quase sem estrias, mama redonda... ainda passarei por ajustes, mas a parte mais complexa foi esta.
Toda mulher gosta de ser magra, não ter barriga.

Claro que não basta ser só um corpo bonito, a vida é bem mais que isso.
Ser humano é ser um mano... é ser!

Acho que me atraiu mais a dor do que a restauração, porque eu sou daquelas que só cresce com a dor.
Talvez uma sadomasoquista, mas não me defino assim.
Porque se eu analisasse minha vida sob determinados ângulos não teria esta crescente certeza de que sou feliz e tenho bem mais a agradecer.
Isso também é uma questão de escolha, se focarmos no que não temos esquecemos o que temos.
Se decidirmos viver no passado e no futuro o presente nos atropela e não conseguimos apreciar a força do sol, a luz maravilhosa da manhã... a magnitude da escuridão.

Sou muito grata por uma série de coisas, especialmente pelas pessoas que me amam e estão a minha volta.
Puxa, pensei que falar mãe teria ficado no passado, afinal, meus pais se foram.
No fim, agora enferma, cá estou chamando a Neusa de Mãezinha, porque é exatamente isso que ela é pra mim.
Chego a me emocionar com tanto carinho, com tanto cuidado e sei que a dona Rose, aonde estiver, nunca mais deixará de protegê-la, pois minha mãe sempre foi uma pessoa com senso de gratidão extremo.
Sei o quanto minha mãe está tranquila neste momento de me ver tão bem.

Hoje fomos ao Parque São Lourenço, dei toda a volta, bem devagar, como uma velhinha "coroca", pois ainda não posso me esticar, a Nicole ia correndo na frente, mas a todo instante olhava pra trás e falava "vem tia Rô"... lembrei do tempo em que morava aqui e passeava nos parques com a Jéssica... que satisfação saber que fui uma mãe boa pra ela, amorosa, presente... maravilhoso poder estar ali vendo os gansos, as ovelhas, as pessoas, a natureza, sentindo o sol... quantas bençãos numa única manhã!

Eu sou feliz.
Posso ter momentos em que fico triste, saudosa, mas o que eu tenho dentro do meu coração e a vida que tive ninguém pode roubar de mim.
Se errei, aprendi com meus erros.

Deus opera milagres, sempre.
Estou atenta, ligada, conectada, minha mente está aberta.
Sei que a serenidade está chegando junto com a meia idade: 40 anos.
Que bom chegar a esta fase, me sinto muito melhor do que há 20 anos.
Legal ter coragem pra modificar tudo o que posso e não apenas ficar na repetição da oração.
As mudanças em mim são visíveis.
Sinto.
A sabedoria me traz tranquilidade.

Quero muito mais da vida, mas não quero o impossível.

Na praça enquanto observava um jovem de 15 anos bêbado, fui atraída na direção de uma linda senhora, idosa, compartilhamos a preocupação e a indignação porque o SAMU não chegava pra ajudá-lo e recolhê-lo, até que voltamos o assunto pras nossas batalhas.
Sobrevivente como eu, ela também não se deixa abater facilmente, afinal, a vida é tão extraordinária, mas não temos o poder de comandarmos o amanhã, então, pra que sofrermos?
Vamos viver o hoje plantando o que desejamos colher.
Este time de pessoas que venceram a morte é imenso.

Ela quebrou o pé recentemente, ficou 3 meses deitada na cama... falei "putz" quando me contou, pois 3 dias de cama pra mim já foram difíceis, no fim disse que foi bom porque aproveitou pra ver muitos filmes.
Ela disse que tem o Complexo de Pollyana, algo que sempre busco pra mim.
Não é uma questão de acomodar-se, mas é uma forma de levar a vida e que nos engrandece muito.

Ainda tenho quase 40 anos, mas confesso que me vi naquela senhorinha.
Um dia eu não vou me permitir ficar triste nem que fique chovendo uma semana inteira, nem se o mundo me fizer chorar.
Já tive muito e só dei valor ao perder, seria insanidade insistir nesta mesma atitude.

Vou lembrar sempre do Jogo do Contente.
Afinal, a gente é aquilo que sonha ser e acredita.

F U N C I O N A.
SÓ POR HOJE!

( 2 MESES, 15 DIAS E ALGUMAS HORAS DE REALIDADE E FELICIDADE ABSOLUTA)

OBRIGADA AO PODER SUPERIOR POR ESTA NOVA CHANCE!

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