Aconteceu na "Terra do Nunca"....



Ontem, por volta de 7:30am, fui acordada pela minha filha (mais ansiosa que a mãe) com a seguinte pergunta:

MÃE VOCÊ SOUBE QUE O HIPERCONDOR PEGOU FOGO?

Hã?! Como assim?

Deu um alívio quando soube que não houveram vítimas fatais. Apenas o gerente e a filha que moravam lá tiveram algumas queimaduras leves. Cerca de 10 funcionários que trabalhavam na limpeza conseguiram fugir assim que perceberam o incêndio.

Como toda pessoa curiosa fui ver o que acontecia, mas claro, as ruas estavam cercadas, mal pude ver alguma coisa. Muita gente em volta, muito bombeiro, muita desolação.

Pra quem não conhece esta cidade que um dia já odiei e hoje digo que me acostumei, mas que se fosse embora não sentiria nenhuma falta; nós não temos shopping, não temos cinema, não temos quase nenhuma opção de lazer.
Graças ao ex-prefeito Roque, temos um parque, o Aeroparque, que deixa muito a desejar, pois não tem árvores suficientes, nem uma lagoa, nem churrasqueiras e muito menos segurança.

Lembro quando há cerca de 7 anos, ficamos sabendo que a rede Condor havia comprado aquele prédio abandonado e que ali sairia o maior supermercado do litoral paranaense, com lojas, lanchonetes e o que mais ansiávamos: salas de cinema.

Paranaguá com mais de cem mil habitantes não tinha isso, acredita? Quando eu era criança tínhamos dois. Lembro das filas que davam voltas no quarteirão quando estreavam um filme dos Trapalhões. Meu primeiro filme à noite foi "Superman", fomos com uma moça que minha mãe criou, eu e meu vizinho Eduardinho Digiovanni.
Aos domingos a mãe nos levava nas matinés... tempo bom...
Quando a Jéssica tinha uns 5 anos eu a levei no único que ainda funcionava. Era um filme de Walt Disney... o cinema era o mesmo, em todos os aspectos, talvez se eu procurasse encontrasse no chão um papel de bala que havia jogado há mais de 20 anos, tal era o abandono.
Logo depois perdemos nosso último cinema.

Então a população parnanguara acompanhou quase que tijolo por tijolo a construção do Hipermercado Condor.
Lembro do dia da inauguração, foi pela manhã, liguei pra mãe e disse que a gente tinha que ir, porque sempre "dão" brindes. Também teria coquetel. Nós tínhamos o convite, meu pai havia recebido. E fomos nós 3, mas meu pai ficou no estacionamento, tinha medo que a barriga pudesse surpreende-lo. Pra quem não sabe, depois das sessões de radioterapia meu pai teve o intestino queimado, nunca aconteceu nenhum acidente com ele na rua, mas tinha medo que pudesse haver e por isso evitava reuniões sociais.

Minha mãe foi uma graça, como sempre, enquanto eu fiquei deslumbrada com o tamanho do supermercado, ela achou normal, só que muito cansativo...sim, não era o primeiro supermercado "gigante" que conhecíamos, o Carrefour Pinhais, o Big realmente eram bem maiores. Só que era nosso primeiro hipermercado.
O primeiro local com escada rolante!!!
Lembro das primeiras vezes que fomos lá, quando o povo ainda estava se acostumando a andar nelas, a cara de medo, de encantamento.
O povo parnanguara é carente de "modernidade"...

Demorou alguns meses pro cinema começar a funcionar. Foi ótimo, filmes em cartaz nas capitais já estavam aqui também, os preços eram acessíveis... a pipoca como as dos melhores shopping. Não deixava nada a desejar.
Ironicamente, ontem eu ia lá assistir um filme com minha cunhada.

Não foi só as mercadorias que o fogo consumiu, mas a área de lazer dos adolescentes, das famílias.
Acredito e espero que o seguro resolva a situação de todos os comerciantes. Ali só haviam lojas de alto padrão.

Horrível é pensar que em instantes algo que parece tão sólido terminou. Não sou apegada a bens materiais, mas não gosto de desperdício. Penso em todas as mercadorias, nas gôndolas cheias, nos eletrônicos, eletrodomésticos... foi ali que compramos nossa TV 29', nossa centrífuga... ninguém vendia mais barato que eles.
Assusta-me pensar que não havia um sistema de combate ao fogo eficaz numa loja tão grande.
Sem contar que os bombeiros demonstraram que não tinham equipamentos pra controlar a situação. Se não contassem com a ajuda de vizinhos e empresas.
Alô Requião!!! Vamos investir nesta corporação feita de heróis? Ou da próxima vez vai precisar morrer alguns bagrinhos?

Hoje consegui passar ao lado. Confesso que meus olhos se encheram de lágrimas. Engraçado com a gente se acostuma e se afeiçoa aos locais.
Doeu dentro de mim ver o tamanho da destruição. Foi como se uma quadra inteira queimasse.

Acredito que a família Zonta vai cumprir a promessa e reconstruir tudo ainda melhor...
Lamento por eles, pelos funcionários e por tudo que foi perdido.

Agora mais do que nunca queremos ver o slogan da empresa tomar forma para que também possamos sentir "Orgulho em ser paranaense".

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