Texto que publiquei no Diário do Comércio dia 08.10.08


Hoje meu pai completaria 74 anos. Ontem completou 1 mês desde que ele se foi. Desde então eu tento escrever algo para que seja publicado em forma de agradecimento, ao povo parnanguara e a eles, meus pais: Rose e Ludovico Mikosz.
Agradeço a todos os queridos amigos que estiveram comigo em mais um momento de dor e tristeza. Aos meus familiares que nunca faltam, tanto do lado dos Lopes quanto dos Mikosz. Pode não resolver, mas a presença das pessoas nos traz um enorme consolo.
Quero fazer um agradecimento especial ao meu tio Mário por tanto ter se dedicado ao meu pai nestes últimos anos, por todas as vezes que ele nos socorreu e pelo fato de que ele também lutou pra que meu pai se sentisse um pouco motivado com a vida. Era pelo meu tio Mário e sua perseverança que meu pai ainda não tinha deixado de vez a programação da rádio Difusora.
Por sinal, encontrei vários documentos dele contando como iniciou sua vida profissional na Fundação Redentorista. São relatos históricos de um tempo aonde a única preocupação era melhorar a vida da população parnanguara mais carente, através deste instrumento poderoso que é a rádio (ou era). Ele veio assumir uma empreitada complicada, tinha tudo pra fazer, burocraticamente estava tudo enroscado porque só havia padres estrangeiros e ninguém podia assumir a diretoria, deu bastante trabalho, mas com competência meu pai conseguiu resolver. Foi ele quem comprou o terreno onde está a rádio hoje, além de ter comprado o terreno onde estava (ou está) o transmissor e também foi ele que reergueu a rádio antoninense. Naquele tempo não tinha todas estas facilidades dos tempos modernos, o sujeito para vencer como meu pai tinha que ter muita determinação. Ele ia pessoalmente até SP comprar os transmissores e equipamentos necessários, chegava até a criar peças, além de que também era autodidata, sabia colocar uma rádio no ar sem pedir ajuda a técnico nenhum. Isso porque meu pai era apaixonado pelo que fazia e amava esta cidade que o recebeu de braços abertos. Era uma “época de ouro” da rádio, sem dúvida, reinava a paz entre os que com ele trabalhavam, as pessoas tinham prazer de fazer parte daquela equipe. Existia companheirismo e amizade. Meu pai sabia como incentivar seus funcionários e conseguia o melhor de cada um.
Quando a Difusora completou 60 anos, após eu ter insistido bastante, consegui fazer com que meu pai comparecesse ao evento na Casa Cecy (2002), lamentei apenas que minha mãe não pudesse ter comparecido no dia, pois ela se emocionaria com tantas homenagens feitas a ele na ocasião. Acho que 90% das pessoas que discursaram agradeceram ao “Lude” pela chance de ter passado pela rádio. Cada um tinha uma história, uma lembrança. A comemoração parecia feita pra ele. Qualquer um ficaria com o ego inflado, mas meu pai não, era muito cético e não se deixava levar pela vaidade.
Também foi muito emocionante seu velório, expressou o que eu já sabia, que ele era admirado, amado e respeitado. Muita gente chorou e lamentou sua morte, muita gente mesmo. Muitos diziam que ele foi o melhor, eu como filha não posso afirmar isso. Só sei que sinto saudades da sua voz grossa, que escondia um homem tão doce e carinhoso, alguém que não aceitava as injustiças desta vida. Peço a Deus que todas as dores físicas e emocionais tenham se dissipado no momento de sua partida. Tomara que ele tenha sentido a gratidão do povo parnanguara. Espero que ele tenha visto o sacrifício feito pelo Tio Henrique Zereck e pelo Dorinho, que mesmo com saúde debilitada fizeram questão de se despedirem do amigo. Tomara que ele tenha ouvido os discursos do padre Armando, seu Amilton Aquim e Mozar de Moura, por sinal, um dos discursos mais tristes e bonitos que ouvi. Eu torço porque sei o quanto ele andava magoado com sua atual situação. Agradeço ao Ivany Marés da Costa pela coragem em tocar num assunto que todos fingem não terem percebido: a ingratidão da qual meu pai estava sendo vítima. Mesmo com a saúde debilitada ele ainda tinha muita energia e capacidade para fazer seus comentários, isso ficou provado em sua última participação ao vivo no programa do Mozar ,dia 7 de setembro. Desde o AVC a vida dele se complicou e foi perdendo o brilho a medida que ele foi colocado de lado profissionalmente. O ápice veio quando ele ainda estava se recuperando do baque de ter perdido minha mãe, menos de 15 dias após pra ser bem precisa. Foi num telefonema frio que ele foi informado que ele destoava da nova cara “moderna” da Rádio Difusora e por isso suas participações seriam apenas aos sábados. Meu pai desligou o telefone, seus ombros caídos, olhos marejados e me disse: “se eu estava atolado ele acaba de pisar com os pés nos meus ombros para me afundar”. Doeu muito ouvir isso e nada poder fazer. Juntei-me ao meu tio Mário e fiz com que meu pai entendesse que seus comentários poderiam não ter valor pra nova diretoria, mas era o povo que queria ouvi-lo. Pelo povo e por nós meu pai não desistiu.
Tudo bem que nada poderia suprir a falta da minha mãe. Foram 53 anos de um casamento perfeito, eles eram essenciais um para o outro. Nós mudamos pra casa dele justamente para evitar que ele entrasse em depressão, mas apesar dele nunca ter reclamado eu sentia em seus olhos o tamanho da sua tristeza e da sua depressão. O desassossego do seu coração ficava claro pra nós por algumas de suas atitudes, ele mudava freqüentemente todos os móveis do seu quarto de lugar, trocava de carro e nos últimos tempos notei ele mais relaxado com suas roupas, coisa que nunca foi. Não deve ser fácil mesmo ficar sem seu grande amor. Não foi fácil pra ela partir e deixa-lo aqui. Na verdade pro ter tido AVC e câncer, em sua cabeça ele acreditava que ia antes.
Eu agora passei pro topo da pirâmide familiar. Acabou a moleza, meus pais se foram e tenho certeza que ambos estão felizes neste momento e certamente já devem ter se encontrado. Eu não acredito que eles tenham se separado nestes últimos 15 meses.
Tenho muita saudade em meu coração, vou lembrar pra sempre de todo o carinho que recebi. Tive os melhores pais do mundo, foram exemplos de caráter, de humildade e de caridade. Agradeço à Deus por todas as vezes que pude estar com eles e dividir o peso da vida e as alegrias também. Quando descobri que estava com câncer em 2006 lembro que minha primeira preocupação foi com eles, sabia que tinha que ser forte pra eles acreditarem na minha recuperação. E foi mais um motivo pra eu não me abater, pensei comigo: “pelo menos tenho meus pais comigo pra me ajudarem”. Nunca estamos preparados, eu sempre tive medo deste momento, queria ir antes, rezava muito pra isso, mas nasceu a Jéssica que encheu nossa vida de esperança e parei de bobeira.
Eu fui muito amada, muito amparada e até mimada. Meus pais deixavam de lado seus desejos para fazer o melhor por nós. Sentirei falta deles que era meus fãs número 1, sempre a comida que eu fazia era “a melhor comida do mundo” e claro, eu também era a menina mais bonita de Paranaguá. A gente fica órfã sem nossos pais, especialmente se forem tão raros. Hoje eu não sou só, graças à Deus, mas nunca mais terei a sensação de felicidade completa. Haverá sempre este grande vazio.
Vou doar para o IHPG alguns documentos e fotos antigas, quem sabe pode ajudar em alguma monografia. Futuramente também pretendo fazer um livro contando sobre sua linda vida ao lado de minha mãe e à frente da Rádio Difusora, além de contar um pouco dos percalços que ele enfrentou para colocar no ar a rádio Litoral Sul, cujo nome foi escolhido por ele.
Obrigada Rose e Ludovico Mikosz por terem me dado este enorme privilégio de conviver com ambos e apesar da nossa enorme dor e saudade sei que estão bem, são pessoa iluminadas que certamente continuarão a olhar por todos nós!
Parabéns meu pai querido, que o senhor finalmente descanse em paz!

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