Dona Rose, "tia" Rose, vó, bem, mãe, minha mãe.







Hoje estava conversando com uma pessoa no meu trabalho, falando sobre como o fato de estar chegando o Dia das Mães mexe comigo, com meu humor, com meu coração... e por mais que eu seja mãe - isso certamente transformará o domingo próximo - a ausência que ela me deixou é imensurável, inquestionável, incomparável, quase impossível de aguentar.
Depois folheando um catálogo de cosméticos percebi que tudo já está voltado para o Dia dos Namorados, resmungona, claro que reclamei para quem estava a minha volta, meio que sarcasticamente, porque eu dou risada das coisas que não posso modificar, mas tive que completar que foi num 12 de junho que a perdi.
Perdi, não há outra palavra.
Naquele dia, perdemos, eu e meu pai naquele instante, juntos, no PS do hospital. Foi naquele instante quando vi meu primo cardiologista sacudindo a cabeça negativamente que começou a se formar esta carência, que se concretizou como definitiva quando ele nos deixou, 14 meses e 22 dois dias depois.
Primeiro me conformei porque eu o tinha, depois porque ambos estariam juntos. Foi assim, tenho esta mania de passar por cima da dor, mas honestamente, antes tivesse caído de cama, ficado doente, mas preferi ir morrendo um pouco a cada dia...a cada semana... a cada mês, a cada ano... hoje, sou isso aqui, alguém que sente tantas saudades do passado que não consegue parar de lembrar... de se remoer por ter deixado de viver tanta coisa ao lado deles, de ter perdido tantas oportunidades.
Peço perdão, tento fazer por todos os outros o que não posso fazer mais por eles, sinceramente, acho que estar bem, limpa, procurando serenidade é uma forma de ao menos poder lhes dar paz agora que eles partiram.
Não queria falar de tristezas, não queria lembrar o momento da notícia, nem nada... mas como? Como não voltar o tempo exatamente naquele 12 de junho de 2007?
Sei que não tenho este direito, mas que saco, queria tanto estar com meus pais.
Não porque minha vida é ruim, mas porque me sinto muito só sem eles.
Porque precisava ouvir todos os dias minha mãe perguntando como estou, se a Jéssica está bem... e até se as cachorras estão bem... ela era assim. Mãe que se anulava, mãe que deixava de comprar algo pra ela pra dar pra gente, mãe que estava sempre junto, mãe que sentia quando tudo estava bem ou mal, mãe que ia no supermercado e não comprava um pão se não fosse pra comprar pra gente também...
Ai mãe... você era tão maravilhosa, tão querida, todo mundo que te conhecia te adorava, quando não te amava.
Mesmo quando eu estava errada ela brigava por mim, claro, depois me pontuava que não podia ser assim... 
Aprendi tanto com ela, mas a maior lição que ela pode me dar é a da humildade. 
Por isso não finjo, sou o que sou... valorizo as coisas simples...mas quero um pouco mais da vida, afinal, ela teve a sorte de casar-se com um homem digno, companheiro, que a fazia sentir-se importante, pois a cada decisão que ele precisava tomar, sempre a ouvia. Por isso que não deu certo ainda pra mim, pois não quero uma pessoa ao meu lado apenas pra dizer que tenho, quero um cara como meu pai. 
Mereço.
As mães devem ir antes dos filhos, não é natural irmos antes delas, mas que elas não vão sem levar uma parte de nós isso tenho certeza.
Nunca mais a gente tem um Natal completo, nem estas datas nos preenchem. Vou estar feliz e grata por estar com minha filha, por termos saúde, mas aquela alegria de se preparar para fazer o almoço, de querer saber o que ela quer, qual sobremesa, se vai ser aqui ou lá, que presente darei... enfim, isso ficou lá atrás.
Um amigo disse que este texto deveria ser escrito como se estivesse falando pra ela... só queria dizer que a amo.
Que jamais conseguiria sequer supor em ter outra mãe.
Agradeço porque fui gerada 9 meses pela dona Maria, mas minha mãe é a dona Rose Maria... e minha vida não existiria se não fosse por ela.
Não entenderei agora por que desta vez vim através de outra barriga, mas a mãe que devo ter sei que é ela.
Quando fiquei doente, lembro daquele olhar de dor misturado com desespero e do esforço que ela fez pra não chorar na minha frente... mas perguntei como ela estava e meu pai disse que estava arrasada. Foi ali, quando imaginei-me num caixão com ambos em volta de mim sofrendo que decidi: QUERO VIVER E VOCÊ, DOENÇA MALDITA, N Ã O VAI ME LEVAR!
Foi graças à minha mãe que não fui um total desastre neste papel, aliás, fui e sou meio que uma mãe irmã, até hoje acho minha filha mais madura que eu, mas isso é pra outro texto.
Mãe é um alicerce, mãe é quem cria, mãe é quem briga, mãe é quem pega no pé, mãe é aquela que nunca nos abandona, seja quando estejamos errados, seja quando estejamos surdos... seja quando estamos aqui e ela lá...
Minha mãe me cuida, há momentos que a sinto, mas esta falta de contato físico me dilacera a alma...
Como queria te abraçar, ajeitar seu cabelo, vestir sua meia fina 3/4 e calçar seu sapato... comer sua comidinha, ouvir aquela sua chantagem emocional quando eu estava sem fome "fiz com tanto amor, que pena...", porque as Lopes sabem manipular os filhos com seus dramas.
Ai mãe, lembro de tudo, do seu riso, daquele seu jeito de contar um filme inteiro quando gostava dele, do modo como me elogiava, de como me incentivava a ser mais, muito mais... porcaria que a gente só ouve de verdade os conselhos quando cresce ou quando dá tudo errado.
Mesmo assim, tivemos tantos momentos maravilhosos, de ternura, de amor... não, não vou lembrar do mal que te causei tantas vezes, porque na ocasião da doença que  me acometeu, entendo agora que ela serviu não apenas pra eu dizer muito mais "eu te amos", "eu te admiro", mas para que eu pudesse fazer as reparações...
Tudo foi lindo na nossa história mãe, desde quando decidiram pegar esta pretinha aqui, beiçuda e careca, que se tornou numa maletinha mimada, depois numa aborrescente, numa rebelde, enfim... uma palavra que você não conheceu sobre minha pessoa: adicta. É mãe, descobri mais esta, ainda bem que posso aproveitar o tempo que me resta aqui e refazer minha vida, sonhando, buscando uma nova maneira de viver, sorrindo por nada ou por tudo, compreendendo que saudade e lágrimas fazem parte dos sentimentos que ficaram da vida maravilhosa que vocês me proporcionaram.
Mais que tudo mãe, sei que você não morreu, nem morrerá, porque pra sempre será lembrada.
É com saudades que continuarei a viver, é com gratidão que carrego este sobrenome que me identifica e com orgulho posso dizer que foi bom ter sido sua filha por 32 anos... mas eu queria mais, lembra? Chorava sozinha no meu quarto e você perguntava super assustada: "que foi?" e eu dizia... "é porque eu tô pensando que um dia você vai morrer", você ria e dizia que ia demorar e que isso ia acontecer porque ninguém fica pra semente...só se enganou, pra mim sua vida ter durado 76 anos foi pouco, justamente quando terminei o tratamento e ia recomeçar, mas... quem sabe do nosso tempo é Ele, Deus.
O que posso fazer hoje é estar perto da mãe idosa de um amigo que passa por problemas, é respeitar aquele idoso que chega até mim pedindo auxílio, pois é em cada uma destas pessoas que te vejo mãe e faço por você, porque tive anjos que enquanto esteve aqui e precisou também cuidaram de você.
Obrigada, pelas noites sem dormir, por mim e pela minha filha, por todas as vezes que me alimentou, por nunca ter me deixado passar fome, frio, sede, por ter se anulado para realizar meus sonhos, por nunca ter desistido de mim, por estar ao meu lado sempre... até hoje.
Também te peço perdão... só sei dizer que você foi a melhor mãe que alguém poderia ter tido, tanto pra mim quanto pra minha filha... e pro meu irmão, apesar de que nunca conseguimos nos entender, espero que um dia possamos, pois sei que este sempre foi seu maior sonho.

Rose Maria Lopes Mikosz... não sei por que você se foi... mas aceito.

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