Nada é fácil de entender...








Sensação de nostalgia pura, acabei de sair do cinema, com lágrimas nos olhos, nariz vermelho, saudades de um tempo que se foi... fui ver como começou a história de uma banda que acompanha minha vida desde os anos 80, quando surgiu.
Legião Urbana, Renato Russo, lembro como se fosse ontem, nós sentadas no portão de casa, o som alto na sala era um tempo nada perdido entre risos, palhaçadas e paqueras... sonhávamos, planejávamos e vivíamos bem, sem grandes preocupações.
De manhã na escola, à tarde batendo perna, às vezes passávamos pela Biblioteca Pública, eu, sempre a mais atentada, dava um berro na janela e saíamos correndo... as monitoras iam com cara de bravas na porta e a gente correndo, rindo, mastigando Bubaloo... vergonha era ter que voltar alguns dias depois com a cara mais deslavada pra fazer alguma pesquisa.
Eu era moleca, provocava mesmo. Apertava campainhas e corria, furava pacotes de arroz e feijão, quando não espalhava spray de barbear... agora entendo por que agia assim, era uma forma de chamar a atenção, ser aceita, sei lá, meus atributos físicos na época serviam apenas para chacota alheia, magricela demais...então, rebatia assim.

Sorte que eu ainda era nova na época do Legião, bitolada, porque certamente teria sido presa pela Ditadura, pois bastava não poder para eu querer fazer, sem medir muito as consequências, aliás, isso ainda tenho, sou impulsiva...
Puxa, mas o filme me trouxe saudades de tudo que já fui, de tudo que já tive, das pessoas que faziam parte. Alguns ainda fazem, outros nem tanto, outros nem faço questão, outros se foram para nunca mais voltarem.
Síndrome de Peter Pan, morando na Terra do Nunca, literalmente.
Era um tempo mais ingênuo, a gente não tinha maldade, nem pensava em beber, usar drogas, aliás, eu tinha medo destas pessoas que faziam estas coisas, nem faziam parte do meu círculo de amizades. Nem quero falar nisso.
Eram tempos doces.

As tardes na confeitaria aonde todos se reuniam... o "point"...


Final de semana a gente se reunia na minha casa, primeiro porque meus pais deixavam a gente super à vontade, com as salas livres, ouvindo música, dando gargalhadas mesmo, daquelas que doem a barriga... derrubávamos, tá, eu derrubava todos os desavisados que se sentavam num sofá, era um barato... ficávamos jogando "queimado", quem perdia pintava a cara, comíamos pipoca demais, além de brigadeiros na colher, 5, 6, 7... todos compartilhando o mesmo prato.
Passávamos trotes...
Sempre na minha casa.... até porque a localização favorecia...
Eu não pensava muito nos meus complexos, apenas vivia, tinha muitos amigos, tudo o que pedia, dentro da medida do possível, meus pais me davam, a gente ia no cinema aos sábados ou à pizzaria...aliás, tivemos uma passagem triste quando resolvemos mudar de local, o garçom explodiu uma garrafa de álcool na mesa, quando foi trocar o fogareiro de uma pizza pra outra, dois amigos se queimaram, estávamos em 6, não tenho certeza, mas acho que tínhamos 13, 14 anos... graças à Deus, apesar do sofrimento, ambos superaram... éramos tão crianças, não posso dizer que éramos adolescentes, éramos bobos... este episódio ficou conhecido como "o acidente da pizzaria" e até hoje ainda alguém me pergunta como foi...
Pensando em tudo, sempre tive uma boa vida, com saúde, amor, amigos... só faltava me aceitar e acreditar.
Quando eu ouvia o Legião Urbana me identificava com sua rebeldia inicial, depois com a melancolia, as dúvidas... até hoje, quantas frases me definem?

Sou um animal sentimental...
Não sou escravo de ninguém...
Acho que não sei quem sou, só sei do que não gosto...

O Renato, era foda, era o cara, nunca conseguirei superar este vazio sua ausência.
Porque ninguém consegue dizer sobre mim tão bem quanto ele dizia cantando...ainda diz, quando estou triste, quando estou perdida, quando estou amando...
Lembro que eu morava na praia quando a notícia da sua morte chegou, não acreditei, nem sabia que o cara estava doente... nossa, bebi uma garrafa de conhaque aquela noite e vi o dia nascer totalmente desnorteada. alterada... agoniada.
Tolamente dizia que cada gole, cada dose, era pra ele... como a gente lamentou sua partida...bem loucamente...irracionalmente.

Tenho um trauma... em 1988 minha família mudou-se para Florianópolis, alguns dias antes do show do Legião Urbana no ginásio Tarumã em Curitiba, como eu tinha 15 anos, meus pais não deixaram eu ir, aliás, eu nunca podia ir à nada, só de dia...então se mudaram até pra eu parar de encher o saco. As minhas amigas que foram, simplesmente almoçaram com ele, pois há alguns integrantes da família Manfredini lá, uma das meninas era parente e todas almoçaram com ele, pegaram autógrafo e só não tiraram foto porque naquele tempos uma máquina do dia pra noite era complicado... se tem uma coisa que nunca perdoei meus pais foi essa... rsrs... tudo bem, hoje passou... foi para minha proteção.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A morte...

Quem tem boca fala o que quer pra ter nome...

Marcelo Dourado, o vencedor do Big Brother Brasil 10?