Dia Nacional de Combate ao Câncer



Eu tive câncer e me trato, ainda faço exames periódicos e tomo remédio. Vai durar mais 3 anos esta rotina, ainda não posso engravidar, mas dou graças à Deus por ter conseguido me tratar o hospital Erasto Gaertner.




Realmente lá é um centro de referência no tramento da doença porque eles se empenham com amor e dedicação.
A primeira vez que eu e o Hélio entramos na recepção daquele hospital, sinceramente foi um choque pra ambos. Muita gente; pessoas novas, pessoas idosas, crianças... gente sem olho, com membros amputados, com o rosto deformado... gente com olhar de quem se entrega, pois não tem esperanças... outros ainda tão pequenininhos que não entendem o que se passa, embora alguns eu percebesse que compreendiam muito bem. E nada acabava mais com a minha alegia que ver crianças em macas, velhinhos em estado terminal aguardando em macas nos corredores para serem internados. Há vezes que saio de lá chorando, porque vejo cenas tristes demais, que
não vale à pena contar.
Ao mesmo tempo via também exemplos de pessoas, que como eu, não se deixavam abater.
E olha que é difícil.
Não é um hospital comum, não mesmo. Quem tá lá ou tem câncer ou suspeita.
Os médicos, inclusive os residentes, além dos enfermeiros, guardas e todos os profissionais que ali estão são preparados para atenderem a gente com carinho e sabem nos dar a medida certa de esperança. E isto não pode nos faltar.
O trabalho do grupo de voluntárias também é incrível. Elas estão por toda parte, sabem quem atender e estão sempre dispostas a ajudar-nos. Porque meu tramento foi pelo SUS, então eu estava ali com todo o tipo de pessoas, principalmente com as mais humildes, mais simples. Gente que ia de pijama, de pantufa, com sacolinhas plásticas pra carregar alguma coisa... lembro de uma senhora bem pobrezinha que comia um bife com as mãos enquanto esperava... mas a maior parte não leva nada, então, as m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a-s voluntárias oferecem diariamente por duas vezes, um pãozinho ou um saquinho de bolachas, com um copo de chá quente. Fora que arrecadam roupas o ano todo e sempre estão atentas para identificar quem precisa. E a pessoa às vezes nem pede, ficam com aquele olhar de perdidos nos corredores, não entendem o que lhes foi pedido, muitos não sabem ler. Neste momento sempre aparece uma senhorinha de rosa com um belo sorriso e muita disposição, pega a carteirinha e corre atrás pra resolver os problemas.
Que Deus proteja a todos deste magnífico hospital.
Porque o cãncer é uma doença maldita, mexe com a nossa paz, tira nossa tranqüilidade e adia nossos planos. Se a pessoa não tiver apoio da família não consegue se reerguer. Eu tive sorte, tinha meus amados pais aqui. Lembro como minha mãe se desperou, chorava muito... sofreu demais a pobrezinha. E sentiu muito orgulho de eu enfrentar a doença de peito aberto e com fé, otimismo. Além deles, tive o apoio da minha filha e do meu marido, todos foram fundamentais. Assim como alguns amigos... outros nem tanto... mas já não são mais amigos, foram rebaixados... rs...
Minha mãe e minha filha foram comigo quando cortei o meu maravilhoso e invejável cabelão. Dois dias depois da primeira quimioterapia eles começaram a cair, então não pensei duas vezes e decidi raspar total. Muito deprimente as histórias que eu conhecia de gente que não aceitava esta parte do tratamento, conheci uma que ficou semanas sem lavar para manter os fios. Acho que sou meio desapegada, sei lá. E olha que uma das coisas que sempre adorei em mim eram eles... meus longos cabelos. Devo ser um pouco prática, penso que se vai acontecer não dá para fugir. A cabeleireira ficou triste, chorou... minha mãe, minha filha, a manicure e até um rapaz que chegou choraram. Menos eu, que até gostei e fiz piadas, mas elas choravam mais ainda... me senti a Camila de Laços de Familia, quem não lembra da famosa cena com a Carolina Dickman?
Amo ser exclusiva. Eu estranhei no início a sensação de estar careca, mas depois de tantos meses nem lembrava, até ficou uniforme. Fiquei sem pêlos nenhum, mas o que mais me abalou foi ficar sem sobrancelha. Toda vez que eu saía tinha que desenhá-las, no início ainda tinham algumas, mas quando todos os fios se foram aí ficou difícil... perdia bastante tempo algumas vezes... e desistia de sair em outras... evitava... ainda bem que uma das minhas melhores amigas de anos foi morar em frente a minha casa, com um polaquinho de dois aninhos que me ama até hoje... e me animou muito. Jojô... da foto sobre castração química que postei...
Das sessões de quimioterapia tinha medo só da furada da agulha, sempre tive pavor... e na mão ainda... ai, nem gosto de recordar...
Só sei que nós, sobreviventes, sabemos que sem amor e sem carinho nada progride. E gente, se você tem algum familiar passando por isto não desanime. Há cura sim.
Por isso temos que viver com qualidade e principalmente cuidarmos do nosso corpo com toda atenção. A saúde é o que vale.
Um dia conto como quase morri por negligência de um médico.

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