Natal chegando...


Sempre adorei o Natal, ao contrário da maioria das pessoas, era o reveillon que me despertava tristeza e angústia.
Não gosto de fogos, tenho medo, a não ser que eu esteja bem longe... mas honestamente, não faço questão. Acho uma judiação com o animais, pobrezinhos ficam bastante assustados.
Além disso acho besteira, no fundo nada muda, o salário não aumenta, seus problemas não se vão... é só mais uma data no calendário.
Já do Natal sempre gostei.
Meus pais, mesmo no tempo aonde tinham dinheiro sobrando, nunca foram de esbanjar na ceia. O importante era estarmos unidos - apesar dos pesares - celebrando mais um ano aonde passamos juntos, agradecendo por sermos uma família. Minha mãe fazia um gostoso arroz à grega, uma boa maionese, o tradicional peru ou chester, frutas e a sobremesa era sempre por minha conta. e normalmente era pavê de pêssego, preferido do meu pai.
Ninguém precisava estar com roupas novas, nem nos presenteávamos com presentes caros. Sempre foi tudo muito simples... hoje entendo bem qual era a mensagem que ambos queriam nos passar. Não havia necessidade de gastarmos num dia, num único jantar o equivalente ao que gastaríamos num mês inteiro... como tanta gente faz... se a pessoa tem dinheiro sobrando, se faz parte do seu padrão de vida e se ela pode comprar um quilo de nozes por mais de 50 reais, quem sou eu para dizer que está errado.
Só que percebo que para algumas pessoas a ceia perdeu o sentido de confraternização e amor. Parentes que não se suportam, outros que gastam mais do que podem apenas para mostrar que tem "bala na agulha".
Enquanto muito se preocupam com a ceia dos que não tem nada, outros pensam em quantas vezes parcelarão as amêndoas, os vinhos importados... o ser humano é incoerente demais!
Por isso, tenho as melhores lembranças dos "Natais" com meus pais. Por isso, não gosto de ceias muito fartas, não me sinto bem, não faz parte do mundo em que cresci.
Quando eu era pequena, meus pais cultivavam a imagem do "papai noel" e ele sempre me trazia tudo o que eu pedia (descontando os exageros)... tínhamos uma árvore muito bonita e sempre meu pai colocava vários embrulhos, inclusive para os primos que aqui estavam... nunca dava um brinquedo melhor para nós apenas por sermos filhos. Éramos crianças acima de tudo e eles compreendiam bem isso. Claro que mimada como eu era, sentia um "ciúminho"... mas logo já brincava junto.
Depois que crescemos, nossos presentes transforam-se em dinheiro. Só a Jéssica tinha o privilégio de ganhar o que pedia... e eles davam tudo que estava ao alcance.
Nos últimos anos, eu me encarregava de fazer a ceia em minha casa, seguindo o mesmo exemplo de contenção de gastos. O que enchia meu coração de alegria era vê-los saboreando meus pratos, lambuzavam os dedos... brincavam que eu poderia abrir um restaurante... para eles, tudo o que eu fazia era melhor...
Eles eram umas graças, especialmente minha mãe. Tinha um bom humor e otimismo, além de enxergar a vida de forma que tudo parecesse cor-de-rosa. Eu e a Jéssica éramos as pessoas mais belas da cidade e as mais inteligentes, segundo eles. Minha mãe me ligava diariamente, era muito preocupada com a gente. Quando acontecia algum crime bárbaro, ela ficava impressionada e temia por nós, este era seu maior pavor, aliás, de ambos.

Eu me conformei com a morte dos dois, mas nunca me acostumarei.

Não me acostumo em ser órfã;
Não me acostumo que não ouvirei mais suas vozes;
Não me acostumo que jamais pegarei outro filme pro meu pai ver;
Não me acostumo que ninguém preocupe-se comigo como eles (porque ninguém se preocupa tanto com a gente quanto nossos pais);
Não me acostumo em fazer almoços aos domingos sem tê-los;
Não me acostumo com a ausência física de ambos;
Não me acostumo que não posso mais contar com eles na criação da Jéssica;
Não me acostumo em viver sem ter os dois para cuidar;
Não me acostumo de viver sem seus elogios;
Não me acostumo em chegar numa boa confeitaria e não pensar em como gostariam de experimentar um dos doces;
Não me acostumo em vê-los só em fotos e vídeos;

Não me acostumo em ter que passar o Natal sem eles... nem o resto dos meus dias!

Só que Deus quis assim, ambos viveram bastante (queria mais!), não sofreram, tiveram uma vida linda de amor, compaixão, carinho e foram pessoas dignas que só me orgulharam e deixaram belos exemplos. Sinto uma dor profunda que jamais acabará. Há momentos em que viajo no tempo, volto ao passado. Uso o guarda-roupas que foi deles, estes dias abri as portas e senti aquele cheiro de madeira, lembrei das camisas do pai penduradas ali... e de mim me escondendo naquele espaço... em alguma brincadeirinha com a Adri e o Eduardinho Digiovanni. Isso machuca como faca... mas através destas lembranças é que temos certeza que nosso amor nunca acaba. Se não acaba é porque está vivo. Se está vivo é porque um dia estaremos juntos...

Não estou animada para o Natal, por mim eu trabalharia até meia-noite e ia e deitar... chorar com certeza, mas tenho marido, sua família não tem culpa, não vou desfalcar a noite porque ele não merece, ficaria triste sem mim. Tentarei não pensar na minha dor, tentarei substituir a dor da perda pela alegria de pelo menos ainda ter uma família para compartilhar.

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Só que nunca mais será a mesma coisa, meu coração está despedaçado, este buraco nunca será completado.


Te amo mãe. Te amo pai. Sinto muita saudades, desculpa pela minha tristeza, vou superar um dia... tenham fé... eu tenho!

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